Bullet Journal e Disciplina

Eu conheci o Bullet Journal por volta de 2015. Eu estava na faculdade, e estava tendo dificuldades de conciliar tudo que eu queria fazer na ...

Eu conheci o Bullet Journal por volta de 2015. Eu estava na faculdade, e estava tendo dificuldades de conciliar tudo que eu queria fazer na minha vida. Em uma pesquisa rápida, descobri essa maravilhosa promessa de me deixar um pouco mais disciplinada e produtiva – tudo que eu mais queria naquele momento.

Eu venho tentando manter um Bullet Journal desde então, e em 2017 eu finalmente consegui. Para quem não sabe, vou explicar um pouco o que é. O Bullet Journal é uma mistura de agenda com diário, só que é todo feito por você mesmo. Você cria uma página de legenda, coloca um sumário (nunca fiz isso porque nunca me pareceu relevante), coloca o mês, faz um calendário, faz um dia por pagina, 2, 3, quantos você quiser. E é isso. No meio, você pode rabiscar o que quiser, fazer desenho, e etc e tal. Vou colocar um vídeo que explica bem melhor o conceito, do que minhas palavras sem referência visual.


O grande problema do Bullet Journal, para mim, foi aceitar que o meu não seria bonito. E eu só consegui manter o meu no ano de 2017 quando eu finalmente consegui tal feito. E que estava tudo bem. Eu comprei cadernos bonitos, canetas coloridas, marcadores, etc e etc, pra no fim, usar apenas uma caneta preta sobre um papel que poderia ser – literalmente – qualquer papel.

     Eu via aquelas caligrafias maravilhosas no Pinterest ou Instagram, e tudo que eu mais queria, era ter minhas páginas preenchidas com tamanha perfeição. Mas eu não tinha disposição, e acabava me sentindo mal por isso – e assim, o Bullet Journal acabou me fazendo mais ansiosa e improdutiva, do que produtiva e disciplinada. Mas eu persisti, e aqui estou, depois de conseguir usar por um ano inteiro essa belezinha de ferramenta, e queria compartilhar algumas coisas sobre. Positivas e negativas.

ASPECTOS NEGATIVOS

1. Ferramenta binária, sem espaço para a complexidade da vida.

2. Lidar com o gosto amargo da sua “irresponsabilidade”.

3. Comparação com o Bullet Journal das outras pessoas – sentir-se burro ou incapaz.

     O BuJo é uma ferramenta bem binária: É 0 ou 1. Ou você fez o que tinha que fazer hoje, ou não fez. Para pessoas que passam por transtornos psicológicos, como a depressão e a ansiedade, talvez ele somente cause mais estresse. Vou explicar: Tem dias que uma pessoa depressiva não tem vontade de fazer nada. E não vai fazer. E abrir seu caderninho, e ver a lista de planos não concluídas, só causa dor, culpa, raiva, sentimento de fracasso. Tem dias que a gente superestima nossa produtividade. Tem dias que conseguimos concluir a lista de prioridades, logo pela manhã. Talvez lidar com esse tipo de situação pode te fazer ficar ansioso e triste, mesmo se você não estiver passando por um transtorno psicológico.

     O BuJo vai te fazer engolir o gosto amargo da sua irresponsabilidade nos dias em que você for irresponsável, ponto. Se você ficou assistindo série a tarde inteira, e não quis ler o livro que tinha prometido, vai ter que marcar um X na caixinha da leitura. Então, à noite, quando você for pegar seu Bullet Journal para o balanço do dia, ou para organizar o dia seguinte, vai ter que engolir um gostinho amargo que é fazer escolhas baseadas na sua procrastinação.

     Às vezes o Instagram e o Pinterest são ferramentas que afetam nossa autoestima. A gente se compara o tempo todo. É coisa de ser humano. Abrir seu feed e ver aquelas páginas impecáveis de Bullet Journal alheio, às vezes só vai te fazer ficar transtornado, se sentindo mal consigo mesmo.

     Mas, para todo lado negativo, existe também os aprendizados adquiridos e os antídotos.

     Bom, como o Bullet Journal é binário, e você sempre fica ciente das tarefas que deixou de cumprir, ou dos seus dias ruins, se você conseguir lidar com isso dentro dos seus próprios limites, pode aprender algumas lições valiosas que eu estou aprendendo no caminho: a primeira delas é me perdoar, ser gentil comigo mesma. Existem dias e dias. E às vezes, eu não estou bem. E tudo bem não estar bem. Tudo bem não conseguir lidar com algumas coisas, tudo bem não querer fazer algo. Além de tudo, perceber o que você realmente NÃO SUPORTA fazer, e procrastina em demasiado, é um exercício de autoconhecimento. Você percebe quais são suas prioridades. Aprendi muito sobre mim mesma, percebendo tudo que eu priorizo fazer durante o dia. Todos os dias.

     Mas também aprendi a priorizar o que preciso priorizar. Não deixar pra depois. Porque quando eu não faço é ruim, e eu sei que não fiz - na maioria dos casos – por irresponsabilidade. E aí o gostinho amargo vem. Eu acabei por descobrir uma coisa muito interessante sobre mim mesma: eu não me priorizo na minha própria vida. E isso é um defeito muito sério. Que eu só fui entender no final do último ano. Eu faço tudo por todo mundo primeiro, e se sobrar tempo, eu faço o que tenho que fazer por mim. Se fulano quer sair comigo na sexta, no horário que eu tinha marcado (comigo mesma) de estudar francês, eu vou sair com essa pessoa em vez de manter meu compromisso. Meus objetivos acabam ficando pra depois. E eu estou aprendendo a ser diferente, dia após dia.

     Eu também aceitei que eu nunca vou ter um Bullet Journal bonito e cheio de ilustrações, por dois motivos principais: o primeiro é que eu raramente estou com saco de fazer ilustrações. Eu preciso pegar réguas, fazer a lápis, passar a caneta, prestar atenção para não borrar – e eu acabo procrastinando muito pra isso, e deixando de usar o caderno. O segundo é que eu quase nunca gosto do resultado, e acabo, na maioria das vezes, frustrada. Então, trabalhei a ideia de ter um BuJo minimalista, e foi assim que me encontrei.

     No final do ano passado, eu ganhei um Planner, e esse ano, pela primeira vez, vou usar um Planner em vez de um Bullet Journal. Na primeira semana, já senti uma diferença importante: A falta de liberdade. Eu sempre enjoava da forma como eu organizava os dias, escrevia as datas, organizava os objetivos da semana, e inventava novas formas, semana após semana, sempre tentando aperfeiçoar meu método de Bullet Journaling. O Planner me engessou. Mas não quero que vocês enxerguem isso como algo ruim. Eu tenho problemas de disciplina e “fazer as coisas conforme o manual”, por isso, ter uma folha em branco é o meu paraíso, por ser fácil de expressar minha criatividade e encontrar novas formas de me organizar. Numa página padrão, com datas pré-estabelecidas, eu preciso ser ainda mais criativa para sair do lugar comum e para fazer com que ele funcione para mim. Desafios são legais.

     Bom, para concluir, é legal ter alguma forma de organizar seu dia – seja manual ou virtualmente, o que melhor funcionar. Conseguir monitorar sua alimentação, seus hábitos, seu humor e organizar tarefas por ordem de urgência, e observar seus gaps nu e crus no BuJo são excelentes formas de aprendizado. Claro, pode não se encaixar muito bem pra você, e tá tudo bem também. Nem tudo são flores, algumas coisas podem fazer muito bem pra alguém, mas muito mal para outras pessoas. O negócio é não ficar se culpando e seguir em frente, sempre.

     E você, já tentou algum método de organização? Algum método funcionou pra você?

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